Em ‘A legião estrangeira’, Clarice Lispector diz que “amizade é matéria de salvação”. E Clarice estava certa. Não que ela precise da minha validação, obviamente. Mas, enfim.
Eu sou apaixonada por escrita. Gosto de escrever sobre emoções e sentimentos. Acredito que, quanto mais escrevo, mais me aproximo de mim e, consequentemente, mais me distancio da perfeição que, muitas vezes, me saboto procurando. E é justamente essa dualidade completamente confusa que me trouxe até aqui.
Uma das minhas melhores amigas (siga ela aqui!) me questionou o motivo pelo qual eu não divido meus textos, tenho vergonha de falar sobre coisas que domino e etc. E, refletindo sobre isso, cheguei à conclusão de que a minha necessidade de aprovação é o meu monstro no armário (já parou pra pensar no seu?).
Ser do tipo de pessoa que tem uma necessidade interna em agradar sempre me gerou uma série de questões - algumas trabalhadas, outras ainda em progresso na terapia e outras que, risos, estão trancafiadas em cofres dentro do mesmo armário, resguardadas pelo monstro.
É curioso ser, no mundo em que vivemos hoje, uma pessoa com medo da exposição. Mas será que, no fundo, todos não somos?
Diz Clarice em ‘Perto do coração selvagem’ que “é preciso não ter medo de criar”. E é assim que eu resolvi inaugurar esse espaço: seguindo o conselho da minha amiga e o de Clarice Lispector.
Na virada do ano, eu decidi me reconectar comigo mesma, despertar novamente minha criatividade e estar mais atenta ao que acontece ao meu redor. E foi assim que eu decidi fazer algo muito simples, mas que tem funcionado bastante: comprei um caderno de anotações! (Se você fez a cara de ‘oi?’, eu te entendo. Pode parecer meio besta, mas confia no processo).
Ter um caderno de anotações fez com que eu passasse a escrever pensamentos randômicos que cruzam minha cabeça, perguntas sobre a existência humana e as dores do dia a dia, sentimentos processados e não processados, trechos de música, de livros, frases que pegam no meu pé e que tocam na minha alma. O que isso tem a ver com a minha criatividade e com meu autoconhecimento?
Bom, meu caderno virou minha saída de emergência. Ali eu guardo tudo aquilo que ressoa em mim de alguma forma. E é curioso, doloroso, instigante, inspirador e até cômico relembrar situações, pensamentos e sentimentos e constatar que muitos são passageiros, outros estão na minha essência e alguns são convicções que criei em cima de experiências que eu não enxergava de forma diferente. Acredito que toda pessoa é uma coleção de detalhes e, bom, ali estão os meus.
Meu caderno, diário, chame como quiser, virou minha forma de tirar de mim e permitir que eu me olhasse também como espectadora. É a minha forma de cuidar do meu santuário interior.
Toda arte, de alguma forma, vem do âmago do artista. E o âmago, bom, ele é desesperado. Ele urge. Seria, então, nossa capacidade de criar algo o maior ato de conexão com nós mesmos?
Bom, a minha urgência me fez procurar uma saída.
Decidi não ter mais medo de criar. De expor, ainda tenho. Mas sigo. Porque medo é linguagem de resistência. E resistir a mim mesma não é algo que pretendo mais fazer.
Seja bem-vindo e bem-vinda. Espero que eu tenha sido sua matéria de salvação por hoje e que você também descubra sua saída de emergência.
bem-vinda! :)
Estava mais do que na hora do mundo conhecer essa maravilhosidade que é Gabriela Viana. Eu tava cansada de guardar esse segredo só pra mim. <3