Essa newsletter está atrasada por motivos de: resolvi descansar no fim de semana e refletir sobre a vida. Eis aqui o que aconteceu. Aproveite.
Ei, você.
Eu cansei de viver essa guerra entre nós. Porque, embora pareça silenciosa, ela é incrivelmente barulhenta. Tem volume altíssimo. E eu tenho TDAH, não dá. Muito mora no não dito, inclusive as suposições que se transformam em certezas, em crenças. E mais ainda mora no dito, naquilo que reverbera pelas linguagens variadas. E eu cansei dessa relação doentia.
Cansaço tem sido uma palavra que muito tem me definido. E, depois de muito acreditar que precisava continuar, eu aprendi a entender meu cansaço de duas formas: a necessidade de parar para avaliar e a de desistir. Sim, desistir.
Eu parei, olhei, avaliei cada palavra, cada sensação, cada conversa. E, com o coração muito em paz, eu desisti. E eu sei que você vai dizer que é um absurdo que eu desista, que isso faz de mim fraca, alguém que não batalha. Mas, posso te dizer? Eu não ligo. Porque, nos últimos meses, eu me dissociei de você. E aí, eu descobri que desistir, às vezes, é só não fazer mais esforço pra caber onde não se cabe mais. E eu não caibo mesmo.
É libertador te dizer que eu desisto. Das comunicações equivocadas, das crenças limitantes, do jeito duro de falar e agir. Desisto das punições que você impõe e que eu aceito por achar merecido.
Você deve estar se revirando agora e enumerando uma série de coisas sobre mim que gostaria de me dizer - ou repetir. Mas eu te coloquei no mudo. Mesmo. É que tem outras coisas que eu estou gostando de ouvir agora, sabe? E nenhuma delas passa por você ou por suas opiniões sobre mim.
Eu tenho descoberto tanto a meu respeito nos últimos tempos. E tem sido uma escolha diária fazer isso . No último sábado, pra você ter uma ideia, eu fui fazer aula de pintura em cerâmica. O que isso tem a ver com a gente? É que eu só me ouvi ali. Zero sua voz. Zero pensar no que você ia achar. Acessei ali uma ponte entre a Gabriela que eu fui e a que eu quero ser. E você não fazia parte. O coração não descompassou, o ombro não ficou tenso, a respiração não se perdeu. Eu nem me lembrei de você por um dia inteiro.
Eu comecei a ler ‘A Insustentável Leveza do Ser’ e, de forma arrebatadora, Milan Kundera ganhou meu coração ao escrever sobre compaixão. Esse trecho mexeu comigo profundamente.
“Ter compaixão (co-sentimento) é poder viver com alguém sua infelicidade, mas é também sentir com esse alguém qualquer outra emoção: alegria, angústia, felicidade, dor. Essa compaixão designa, portanto, a mais alta capacidade de imaginação afetiva — a arte da telepatia das emoções. Na hierarquia dos sentimentos, é o sofrimento supremo”
Percebe? Eu descobri que não preciso que você me acolha - até porque, a tirar pelas nossas interações em geral, você não faz isso. Você só quer saber de você mesmo. Eu posso ter compaixão por mim mesma. Sentir profundamente comigo todos os sentimentos e emoções. Sem, para isso, precisar te acessar. Com toda licença poética, descobri que isso se chama amor próprio.
E foi onde eu desisti. Desisti de ouvir todas as vezes que você me falou que eu não era suficiente, que eu merecia viver essa ou aquela situação. Desisti de ouvir quando você me disse que eu não valia…o esforço, o investimento, nada. Desisti de quando você me convenceu a abrir portas que eu não deveria. Desisti de te dar razão quando você me fala que é egoísmo não dar novas chances.
E, foi ao te colocar no mudo, que um mundo novo vem se abrindo - mesmo que, vez ou outra, eu mexa no botão do volume e você apareça gritando na minha cabeça. Eu descobri tantas capacidades, qualidades, tantas coisas - e pessoas - que realmente alimentam meu espírito. Passei a ouvir tantas coisas lindas sobre mim que você nem acreditaria. Eu até parei de ficar tão sem graça com elas - ainda fico sem jeito e acho difícil receber, afinal você sabe mexer no volume, né?. E, sim, eu sigo tendo falhas - muitas delas. Mas tenho abraçado cada uma e, juntas, temos pensado: como podemos melhorar aqui? Perdi o medo de encarar minhas inconsistências e descobri que elas não me definem.
Eu me descobri mais corajosa do que você dizia que eu era. Entendi a coragem como dar cor ao meu agir. E, mesmo que a pintura não seja perfeita, ela vai sair altamente poética, repleta de significados não lineares, tal qual eu sou. E, não, não vou seguir me castigando pelas coisas que eu fiz de errado. Essa sua mania entrou no mudo com você. Eu dei meu melhor com o que tinha em mãos, mesmo que não tenha sido o melhor que eu poderia ter feito.
Eu decidi desistir de acreditar em você. E comecei a acreditar fortemente em mim. É uma jornada. Longa, com desafios, com pesos e levezas.
No mesmo livro, Milan Kundera traz essas frases:
“A vida é uma combinação de leveza e peso. O amor é uma forma de encontrar equilíbrio entre esses dois aspectos.”
“O amor é um estado de graça que nos permite transcender a banalidade da vida cotidiana.”
“A leveza não é a ausência de peso, mas a leveza de ser, a consciência do tempo e a responsabilidade pelo que se faz.”
Eu não sei como eu te chamo mais. Antiga eu? Voz desesperada da minha cabeça? Impostora? Sei não. Mas deixa eu te falar? Eu encontrei um novo amor. A gente tá se conhecendo ainda. Mas ela tem um jeito muito mais doce de falar comigo que o seu, sem perder a assertividade. Ela sabe sorrir comigo, chorar, sentir dor. Ela tem compaixão.
E tem sido incrível viver esse estado de graça e apaixonamento pela minha imperfeita essência, esse equilíbrio entre a leveza e o peso. Essa “nova eu” tem sido o que eu tenho ouvido em volume mais alto no momento. Tem sido minha música preferida. E, aos poucos, vem se tornando a da vida.
Espero não ouvir mais você. Mas, já deixo o recado que, se mexer no volume, eu aperto o mudo de novo, tá?
Com um sorriso enorme estampado no rosto,
eu.
Reserve sua agenda e tenha um dia de amigas(os)
Existem amizades de alta, média e baixa manutenção. Particularmente, sou adepta das relações de baixa manutenção. Mas tenho as de média - não, definitivamente, eu não gosto de relações de alta manutenção. Acho chato mesmo.
Tenho um grupo de amigas que, apesar de nos vermos em um almoço semanalmente, temos um total de zero cobranças. Não tá afim? Não vai. Não pode? Tudo bem. Mas, se o negócio pegar, irmão, elas estarão lá. Apesar de nos encontrarmos uma vez por semana, decidimos que os almoços não eram suficientes pro que queremos do nosso relacionamento. Tudo porque queremos mais tempo pra rir. Mesmo.
Por isso, assumimos o seguinte desafio: a cada mês, dois meses, tiramos um sábado para fazer coisas pela primeira vez (ou repetir o que a gente gosta mesmo). Só a gente. Sem julgamento. Apenas coisas divertidas e que eliminem o estresse da vida.
Pintura em cerâmica, almoço, cantar no carro em volume máximo, errar o caminho, passar a tarde em um parque de cama elástica, jogar uno, beber no posto de gasolina, furar a dieta, passear, gastar um rim num cafezinho gourmet (privilégios <3), fazer luta. Falar bobagem impublicável, rir de doer a barriga. Salva o dia. Salva a semana. Salva a alma. Recomendo.
podemos ser muitas versões de nós mesmos. e descobrir que podemos descartar algumas das velhas que já não nos servem mais é libertador!